2012/08/15

Crônica de OLAVO BILAC sobre CAXAMBU

Crônica de OLAVO BILAC no Jornal Gazeta de Notícias sobre “ Renovação de Energias ” em CAXAMBU – MG. “ Noites frias, em que o prazer de dormir parece o antegozo da bem-aventurança do céu; madrugadas de ouro e fogo, em que a luz levanta de cada moita uma nuvem de azas e uma sinfonia de gorjeios; dias de sereno esplendor, varridos de aragens frescas, que trazem todos os perfumes embriagadores da mata; - ali está o que é capaz de, em meia dúzia de dias, restituir o vigor ao cérebro mais cansado e a alegria ao coração mais triste. É o que esta montanha abençoada fornece aos que a procuram; e, retemperada por este ar de incomparável doçura e por este rejuvenescedor convívio com a Natureza, - pode a gente depois voltar sem perigo para o calor violento, para o calor sufocante e para as amofinações da cidade ... Isto é o Paraiso a nove horas de viagem do Purgatório; é a Fonte de Juventude, posta ao alcance de quantos, devorados por um trabalho mental incessante, envelhecem mais depressa do espírito do que do corpo. Ainda agora, abrindo a janela do quarto, ao romper do meio dia, senti que o ar entrava cantando nos pulmões; e houve dentro de mim como uma ressurreição da mocidade morta. O Parque acordava, ansiando e sorrindo, aos primeiros beijos do sol, nas árvores pairavam, iam e vinham, revoadas de periquitos verdes, como esmeraldas aladas, - bandos tagarelas desses periquitos, que são para Caxambu o que os pardais são para os jardins de Paris; hóspedes perpétuos, complementos forçados da paisagem ... Ao longe carros de bois rinchavam, despertando os ecos nas quebradas das serras. A gente do povo, que passava para o trabalho, tinha um sorriso bom, florescendo na boca, e um sangue vivo, sorrindo na face; - e eu, alargando o olhar e a alma pelo horizonte infinito, lembrava-me com terror do tilintar dos bondes elétricos e do estrupido das carroças, e do sol assassino, e do pó sufocante, que me esperam no Flamengo. Esperai-me ainda por uns três ou quatro dias, ó duros aborrecimentos da cidade ! daqui a pouco, irei tornar à minha canga, à minha calceta e à minha resignação de galé. Mas, para vos suportar, levarei comigo a recordação desta paisagem, que me está embriagando os olhos e uma basta provisão de alegria e saúde; e serei como aquele demônio da lenda escandinava, que era feliz entre as chamas do inferno, só porque pudera, durante um minuto escasso e fugaz, contemplar a formosura do céu. ”

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